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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Mistério: a Desconhecida do Sena

No fim da década de 1880, o corpo de uma garota de 16 anos foi encontrado no Rio Sena, em Paris. Sem sinais de violência, o cadáver seria de uma jovem suicida. Mas ela era tão bela e tinha um sorriso tão enigmático que depois da autópsia, um legista fez uma máscara mortuária do rosto dela.

Na romântica atmosfera da Europa da belle époque, a face da anônima moça suicida — que passou a ser chamada de L'Inconnue de la Seine, a Desconhecida do Sena — se tornou um ideal de beleza feminina. Em Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge [Os Cadernos de Malte Laurids Brigge], o protagonista do único romance de Rainier Maria Rilke (1875-1926) escreve: “O mouleur [modelador], em cuja loja passo todo dia, tem um busto de gesso em cada lado de sua porta. [Um é] a face da jovem mulher afogada, da qual tiraram um molde no necrotério, pois era bela e sorria, sorria tão misteriosamente...”

Ironicamente, as feições da garota desconhecida foram usadas em 1958 para modelar a boneca usada no treinamento de primeiros-socorros, conhecida como Rescue Anne. Embora a identidade da moça e os motivos que a levaram ao suicídio ainda sejam um mistério, diz-se que ela se tornou “a mais beijada de todos os tempos” pois milhares de estudantes já treinaram a respiração boca-a-boca em seus lábios.
 
 
Máscara mortuária
Nas culturas ocidentais uma máscara mortuária era feita de cera ou gesso colocada sobre o rosto de uma pessoa recém-falecida. A máscara podia ser feita para se possuir uma lembrança ou souvenir do falecido ou usada como modelo para criação de retratos. Alguns desses retratos puderam e podem ser identificados como baseados em máscaras mortuárias, dadas algumas distorções provocadas pelo gesso durante a modelagem.
Em outras culturas, a máscara era um ritual de sepultamento. As mais conhecidas dessa espécie foram as máscaras feitas pelos antigos egípcios como parte do processo de mumificação, como a máscara de Tutankhamon.
No século XVII, alguns países europeus usaram as máscaras mortuárias como efígies. No século XVIII e XIX foram usadas para registrarem rostos de desconhecidos para posterior identificação, até serem substituidas pela fotografia.
Propostas da frenologia e etnografia levaram a que se usassem máscaras (tanto de mortos como de vivos) para propósitos científicos e pseudo-científicos.

Historia

Esculturas

Máscara de Ouro de Tutankamon.
 
Máscaras de mortos foram tradicionais em muitos países. O mais importante processo funerário foi nas cerimônias dos antigos egípcios das mumificações dos corpos, que, após orações e consagrações, eram depositados em sarcófagos construídos e decorados com ouro e pedras preciosas. Uma parte especial do ritual era a máscara esculpida do rosto do falecido. Acreditava-se que a máscara guiaria a alma da múmia e a guardaria dos espíritos malignos durante a jornada até o outro mundo. A máscara mais famosa é a do faraó Tutankamon.

Em 1876, o arqueólogo Heinrich Schliemann descobriu seis túmulos em Micenas, que ele achava serem de reis ou antigos heróis gregos: Agamenon, Cassandra, Evrimdon e seus companheiros. Surpreendeu-se quando viu que as caveiras estavam cobertas com máscaras de ouro.
Acredita-se que os bustos ou estátuas dos romanos antigos foram esculpidos a partir de moldes de cera tirados por ordens das famílias dos mortos. As máscaras de cera depois eram modeladas em rocha.

Vultos retratados
Máscara de Chopin.
Suposta máscara de Dante.
 
Na Idade Média, as máscaras mortuárias de fato tomaram o lugar das esculturas. Elas foram usadas em funerais e depois preservadas em museus, livrarias e universidades. As máscaras não eram apenas dos mortos da realeza ou da aristocracia (Henry VIII, Sforza), mas também de pessoas eminentes como poetas, filósofos e dramaturgos tais como Dante, Filippo Brunelleschi, Torquato Tasso, Blaise Pascal e Voltaire. Continuou em alguns lugares o costume romano de serem transpostas para estátua ou bustos.
A máscara mortuária de Oliver Cromwell encontra-se preservada no Castelo Warwick. Outra notável máscara é a de Napoleão Bonaparte, tirada na ilha de Santa Helena e despachada para o Museu Britânico em Londres.

A máscara mortuária de Chopin foi feita em Paris, 1849.
Máscara de Keats.
 
Na Rússia, a tradição das máscaras remonta ao tempo de Pedro, o Grande, que teve seu rosto modelado por Carlo Bartolomeo Rastrelli. Outras máscaras conhecidas são as de Alexander I, Nicolau I e Alexander II.
Uma das primeiras máscaras de ucranianos foi a do poeta Taras Shevchenko, tomada por Peter Clodt von Jürgensburg em São Petersburgo, Rússia.

Ciência

Dois homens modelando uma máscara mortuária.
 
As máscaras mortuárias foram muito estudadas por cientistas do século XVIII como registro das mudanças na fisionomia humana. A máscara dos vivos também começou a ser feita. Antropólogos usaram esses processos para estudar pessoas famosas e notórios criminosos. Foram também usadas para classificar as diferentes raças de acordo com as diferenças verificadas.

 Forenses
Antes do advento da fotografia, os retratos dos rostos serviam para registro de mortos não identificados para futuros reconhecimentos por parte de parentes ou conhecidos.

Uma dessas máscaras, conhecida por L'Inconnue de la Seine ("A desconhecida do Sena"), registrou o rosto de uma jovem mulher desconhecida, que teria sido encontrada boiando no Rio Sena em Paris por volta dos anos de 1880. Os trabalhadores do necrotério de Paris modelaram seu rosto com gesso. A partir daí sua beleza atrairia certa fascinação mórbida de boêmios parisienses.
O rosto de Resusci Anne, apelido do primeiro manequim de treinamento desenvolvido em 1960, trazia os traços da mulher do Sena.

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