Ex-guitarrista de Michael Jackson questiona relação das mulheres com o Rock
Artista solo, autora de dois livros, colunista da revista Guitar Player, ex-guitarrista de Michael Jackson e Jeff Beck, poucas pessoas no Rock representam tão bem o sexo feminino como Jennifer Batten. Em datas como hoje, 8 de março de 2009, Dia Internacional da Mulher, ninguém melhor que ela para agraciar as páginas do Solada.
Em 2008, a norte-americana lançou seu terceiro álbum solo, Whatever. A influência de um dos músicos com quem tocou é inegável e não a intimida. “A criatividade e a evolução de Jeff Beck são impressionantes e incomparáveis no meio musical. O estilo de meu novo CD que descrevi como ‘guitronica’ vem muito de como ele me inspirou no trabalho com a música eletrônica e com novos elementos e maneiras de produzir, criar, explorar sons”, ressalta.
Presente nos discos Who Else! (1999) e You Had It Coming (final de 2000 no Japão, 2001 no restante do mundo) de Beck, a musicista nos conta como conheceu seu ídolo e então futuro parceiro. “Eu o vi em uma das turnês que fiz com Michael Jackson e logo lhe dei meu primeiro CD solo [N. do E.: Above, Below And Beyond de 1992]. Meu único objetivo era vê-lo, dizer ‘oi’”. O talento da virtuose levou-a a uma realização além da que a própria esperava. “Dois meses depois, ele ligou e propôs que trabalhássemos juntos em um projeto . Após cinco anos e o fim do trabalho com Michael, isso aconteceu. Foi inacreditável e assustador. Era tudo que eu poderia sonhar”.
Opondo-se à onipotência que caracterizou muitos guitarristas de sua geração, os quais batiam no peito e diziam “eu posso tocar tudo”, Jennifer admite não ter sido fácil acompanhar o ex-The Yardbirds. “O maior desafio foi compreender as guitarras sintetizadas, pois o som de cada sintetizador responde diferentemente. Havia também algumas coisas que fluíam para ele, mas que eram obstáculos para mim. Precisei me aprimorar em bends para alcançar o nível dele”. As dificuldades surgiram em decorrência de abordagens distintas nos primeiros encontros dos dois. “Ele é um músico completo no que se refere a ‘feeling’ e pegada, e, apesar de ter um domínio técnico incrível, não se importa em impressionar as pessoas com tappings ou sweep pickings, recursos importantes que me introduziram ao público, aos quais, no entanto, não devemos nos limitar”.
Em sua estréia como solista, a heroína da guitarra realmente não mediu esforços para deixar homens e mulheres – e todas as variantes de ambos, oriundas de opções sexuais – boquiabertos com suas performances, principalmente por uma marcante execução de Flight Of The Bumblebee, composição de Nikolai Rimsky-Korsakov do final do século XIX. Até videoclipe – coisa rara para a guitarra instrumental – foi gravado para a interpretação dela (confira logo abaixo – início aos 35 segundos de vídeo).
“Foi a minha resposta para os álbuns de guitarra da época. Eu queria mostrar às pessoas que podia tocar e fazer ótimos solos. Então, iniciei com ‘Flight Of The Bumblebee’ a 200BPM”, relembra. A meta, por sinal, alcançada, era tão somente impressionar, gerar discussões e mostrar que uma mulher conseguia utilizar com igual qualidade e destreza expedientes dantes considerados exclusivos do universo masculino. “Havia isso mesmo. Eu nem tinha real interesse por música clássica. Curti Paganini, mas por pouco tempo. Para mim, nada se compara a música com bateria”.
Jennifer precisava apenas de um registro próprio, uma vez que seu talento já havia sido comprovado e testemunhado por mais de 4 milhões e 400 mil pessoas que compareceram aos 123 shows de Michael Jackson nos 16 meses da turnê do álbum Bad (1987). Dentre os desafios da moça, estava tocar ao vivo para centenas de milhares de espectadores músicas como Dirty Diana, cuja gravação original traz ninguém menos que Steve Stevens nas seis cordas, e Beat It, avassalador sucesso que contém – bem, você já sabe – um dos mais aclamados e memoráveis solos de guitarra de todos os tempos, assinado por Eddie Van Halen.
Assista a uma gravação de Beat It ao vivo com a guitarrista e Michael no Japão, a 14 de setembro de 1987 (Jennifer aparece em destaque a partir dos 2 minutos e 42 segundos de vídeo):
“Tocar ‘Beat It’ foi divertido”, ela nos assegura, antes de se derreter em elogios a Eddie. “Adoro aquele solo. É um dos melhores dos anos oitenta e fiquei orgulhosa por ter tido a oportunidade de tocá-lo. Eddie é incrível e eu o respeito e admiro muito”. Aliás, é claro, para entrar para a banda do ex-The Jackson 5, Batten precisou passar por um teste rigoroso que evidentemente incluía desempenho irretocável para as partes gravadas pelo líder do Van Halen. “Eles colocaram uma câmera na minha frente e começaram a gravar tudo que eu fazia. Toquei alguns grooves de Funk, e então um solo gigantesco com tappings. Depois, pediram para que eu executasse o solo de ‘Beat It’”. O resultado foi bom, mas não a deixou com a certeza de que garantira um lugar ao lado do Rei do Pop. “Senti que havia me saído bem, mas eu sabia que centenas de guitarristas disputavam aquela vaga”.
Além de desbancar os outros candidatos, Jennifer se tornou peça fundamental nas apresentações do grupo e excursionou com Michael Jackson na divulgação de Dangerous (1991) e HIStory: Past, Present and Future, Book I (1995). No total destas duas turnês – de acordo com o site The Michael Jackson Trader¹ -, aproximadamente 8 milhões de pessoas viram-na com guitarras e visuais excêntricos nos palcos de países europeus, oceânicos, asiáticos, africanos, norte, centro e sul-americanos. Após todas estas experiências, não há como não questioná-la sobre as acusações e situações referentes ao astro com quem ela trabalhou por tantos anos. A resposta é seca e direta: “Não. Eu não acredito em nenhuma destas acusações e em nada que falam dele por aí. É muito mais provável que sejam armações contra uma pessoa excessivamente exposta ao público”.
Como grande revolucionária e ícone das mulheres em termos de virtuosismo na guitarra, a musicista hesita ao falar de machismo no Rock. “É difícil dizer se as portas estão fechadas ou se não há interesse das mulheres pelo estilo, apesar de eu saber que existem muitas guitarristas excelentes por aí. O fato é que é complicado fazer sucesso nas artes, independentemente de sexo ou vertente musical. Chegar a ser uma profissional reconhecida não é apenas uma questão de talento e potencial. Você precisa ser persistente, ter muita vontade e sorte”.
Apesar das ponderações, Jennifer, ativista, colaboradora em inúmeras instituições e eventos beneficentes, férvida combatente a qualquer tipo de preconceito, não perde tempo e deixa uma mensagem final: “Racismo, xenofobismo, homofobia, tudo isso é uma grande estupidez, principalmente na América do Norte, onde há toda essa ideologia de que a nação se construiu baseada na tolerância. Claro, tolerância depois de exterminarmos os nossos povos nativos”.
Veja abaixo o videoclipe de Inner Journey, música do CD/DVD Whatever lançado em 2008 pela Lion Music.
Por Thiago Sarkis
Uau, alem de ser uma gata, toca muiiiiiiito...
Não é a toa que o Michael elevou a musica a um patamar que fugia sempre do óbvio, comum ou mesmo fácil, sempre se cercando de grandes talentos!
Beijo do gordo!
Muito legal e informativo esse post!
ResponderExcluirSempre gostei dessa guitarrista, amo musica e o seu blog esta de parabéns!
Abraços
Lipe